6 de agosto de 2007

PG - leitura


O breve tempo da moda é o tempo de todas as coisas


No seu memorável desfile de papel, o estilista Jum Nakao deixou exposto o círculo autofágico da moda, que se autodestrói para renascer continuamente. Rasgar as roupas no final foi uma forma de eternizar imagens que se dissolveriam rapidamente no vaivém de tendências. Mais do que isso, foi um drible no tempo, minutos magicamente roubados da inexorável engrenagem que rege um sistema muito maior do que ele mesmo.

O desfile de Jum aconteceu há três anos. Com exceção de algumas poucas autoridades no assunto, seria difícil alguém se lembrar (sem consultar arquivos) dos detalhes dos demais desfiles apresentados em junho de 2004 na São Paulo Fashion Week. Simplesmente porque foram imagens de moda criadas para saírem do “estoque” mental poucos meses depois, junto com as últimas peças da liquidação. Afinal, é preciso dar espaço para as próximas novidades.

E elas vêm em intervalos cada vez mais curtos. Os grandes magazines internacionais há tempos não se prendem mais ao calendário oficial de lançamentos e renovam semanalmente araras e vitrines, pois o que faz a loja vender é a expectativa do consumidor de encontrar novos produtos, não mais o clima. E essa expectativa é um sentimento comum a todos, dos que acompanham tendências aos que não têm o mínimo interesse por moda.

O último título lançado pelo escritor famoso, o computador mais moderno, o novíssimo design do celular mais hype do momento, as notícias recentes dos blogs mais atualizados... O que, senão a obsessão pela novidade, explicaria aquela sensação de abandono quando, por algum contratempo, nos privamos do acesso à internet (esse admirável mundo novo)? Com o individualismo moderno, a novidade ganha sentido de urgência e se consagra como filosofia comportamental. O novo é superior ao antigo: eis a idéia que permeia a sociedade de consumo. O breve tempo da moda é o tempo de todas as coisas.

Foi o filósofo francês Gilles Lipovetsky, no clássico O Império do Efêmero (Cia da Letras), quem explicou como o princípio básico da moda – a mudança – impõe-se hoje em todas as esferas de consumo. Ela (a mudança) nos faz enxergar que é impossível delimitar onde começa e onde termina o fenômeno moda, que não é um setor específico e periférico, mas “uma forma geral em ação no todo social”. A moda reordena também a produção e o consumo de massa sob a lei da obsolescência, da sedução e da diversificação. É, portanto, moda com M maiúsculo.

Com sua lógica organizacional instalada no terreno das aparências e da necessidade do novo, a Moda instaurou o descartável e inaugurou a cultura clip: das mensagens instantâneas, do “bombardeio” de imagens, da velocidade como regra geral, da completa aversão à perda de tempo. O presente – eixo temporal próprio da moda – rege a cultura de massa: sem rastro, sem futuro, ela é feita para existir somente no agora, adaptando todos os discursos ao código da modernidade. Não há lugar para o passado nessa equação “fast-fashion”. Somos seres do instante. E, assim como as vontades da moda, ele é cada vez mais fugaz.


Rosângela Vale, jornalista com especializações em Moda e em Marketing pela Universidade Estadual de Londrina.

12 de abril de 2007

:: criativo :: objetos - flores que descolam




"Orchid is a set of clothes-hooks, the petals bent so that articles can be hung from them. This is a product in the sphere of emotion, refinement, poetic beauty and harmony. As such, it can also be simply decorative and give rise to floral combinations."

23 de março de 2007

:: RONALDO :: DESFILES

1996 INVERNO - eu amo coração de galinha
1996 VERAO - album de família

1997 INVERNO
- em nome do bispo
1997 VERAO - O império do falso na bacia das almas

1998 INVERNO
- O jantar
1998 VERAO - O vendedor de milagres

1999 INVERNO
- A roupa
1999 VERAO - Bibelôs

2000 INVERNO
- As células de louise
2000 VERAO - A carta

2001 INVERNO - Rute Salomão
2001 VERAO - Quem matou Zuzu Angel?

2002 INVERNO - Corpo cru
2002 VERAO - Cordeiro de Deus

2003 INVERNO - As viagens de Gulliver
2003 VERAO - Costela de Adão

2004 INVERNO - Quantas noites não durmo
2004 VERAO - São Zé

2005 INVERNO - Todo mundo e ninguém
2005 VERAO - Descosturando Nilza

2006 INVERNO - A festa no céu

2007 VERAO - A festa no céu
2007 INVERNO - A China de Ronaldo

2008 ????

12 de março de 2007

:: RONALDO FRAGA:: inverno 2007



É da China que vem a coleção Inverno 2007 de Ronaldo Fraga. E o estilista aproveitou para convidar para jantar - arroz de palitinho, é claro - uma superpopulação de chineses. A passarela serviu de mesa para uma centena deles, vestidos de operários com logos de grande empresas vítimas de falsificação: Apple, Nike, Puma, Motorola, Volkswagen. Foi nessas que o estilista Jum Nakao fez retorno ao SPFW, numa participação especial no desfile do amigo Ronaldo. Foi assim também que o beauty artist Celso Kamura saiu do backstagem e foi "desfilar".

Difícil foi prestar atenção nos detalhes da coleção. Rica. Ronaldo Fraga sabe criar uma atmosfera encantadora para seus desfiles. Sempre com muita personalidade.

Volumes oriundos da estética chinesa, incluindo as variações de quimonos, aplicações metálicas, um toque militar, calças amplas, saias de prega... A China, na interpretação de Ronaldo Fraga, não cai no lugar comum.

Além de poética - Ronaldo Fraga é sempre um poeta -, a coleção é polêmica. Cutuca a pirataria e o abate de animais. E não deixa passar em branco o recorde de país de maior população de todo o planeta. Tudo isso aparece na estamparia, ponto-alto do Inverno 2007.

Por Francesca Sperb


Fotos Agência Fotosite

FICHA TÉCNICA


Cenografia: Clarissa Neves e Paulo Waisberg
Trilha: Ronaldo Gino
Designer de Jóias: Marcelle Lawson-Smith

Beleza: Marcos Costa por Natura
Óculos de meia-verdades: Tecnol Óculos

Estamparia: Rodrigo Babá e Virgínia Babá da Sete Estamparia
Bolsas: Fábrica
Direção de Desfile: Roberta Marzolla
Auxílio luxuoso: Lili e Tom - Desvairados pela China

:: RONALDO FRAGA :: verão 2007













VERÃO COM HISTÓRIA

Inspirado na literatura de Guimarães Rosa, Ronaldo Fraga conta sua história do verão 2007. Se passa no sertão, representado pelas cores terra, começa quando surgem os tons de azul do amanhecer, adentra o sol do meio-dia e culmina no anoitecer, quando os azuis do céu ficam mais intensos, e o cair da lua é representado por aplicações de espelhos redondos.

Essa história fala do contato com a natureza, revelado nas estampas de pássaros, bichos e paisagens, e os personagens são românticos e delicados, como os bordados naïf. Se vestem com liberdade de movimentos, roupas leves e fáceis, com vestidos e batas mais amplos acinturados ora apenas na frente, ora atrás.

É uma história com final feliz - as clientes da marca vão comemorar. Ronaldo Fraga "conta um conto e aumenta um ponto". E entra na passarela distribuindo livros para a platéia. Tudo pela literatura.

Por Francesca Sperb

FICHA TÉCNICA:
Direção de Desfile: Roberta Mazolla
Cenografia: Rodrigo Câmara
Trilha sonora: Ronaldo Gino
Beleza: Cida Nogueira com equipe e produtos Sebastian
Assessoria de Imprensa: NaMídia, (11) 3034-5501
Design Gráfico: Designlândia

:: RONALDO FRAGA :: ARQUIVO























Humor, ousadia e crítica social. Essas têm sido as constantes nas coleções do mineiro Ronaldo Fraga, de 36 anos, que, temporada após temporada, dedica-se a contar "histórias absurdas do homem comum", como ele próprio define.

Graduado em estilismo pela Universidade Federal de Minas Gerais no início dos anos 90, passou os anos seguintes especializando-se no exterior.

Em Nova York, cursou a Parson's School com a bolsa que recebeu por ter vencido um concurso da empresa têxtil Santista.

Em Londres, aprendeu chapelaria na Saint Martins e, junto com o irmão, abriu uma pequena produção de chapéus, vendidos nas famosas feiras de Camden Town e Portobello. Com a renda do negócio, viajou toda a Europa.

Em 1996, veio ao Brasil para participar do Phytoervas Fashion, em São Paulo, em uma das primeiras edições. O desfile "Eu Amo Coração de Galinha", colorido e alegre, surpreendeu a todos numa época em que o espírito clean ditava a moda.

Viriam mais duas participações e a volta em definitivo ao Brasil. No último Phytoervas Fashion, em 1997, com a coleção "Em Nome do Bispo", inspirada na obra do artista Arthur Bispo do Rosário, ganhou o prêmio de estilista revelação. Ainda em 1997, Fraga lançou a sua marca própria.

Na Semana de Moda - Casa de Criadores, que passou a integrar em seguida, abordou temas como a cópia no mundo da moda e religiosidade. Na derradeira participação nesse circuito, em 2000, fez uma dobradinha com Jum Nakao. Com o desfile "A Carta", ambos homenagearam um ao outro.
Em 2001, Fraga foi convidado a entrar no São Paulo Fashion Week e desde então desfila nas duas edições anuais do evento. Logo na segunda participação, as roupas para o verão 2001-2002, inspiradas em Zuzu Angel, foram indicadas como melhor coleção feminina de 2002 para o prêmio Abit - Associação Brasileira da Indústria Têxtil.
Na edição seguinte, o estilista causou grande impacto ao apresentar as roupas de inverno em estruturas de metal com um sistema de roldanas que trocava os modelos por bonecos de madeira. Vieram, ainda, um desfile de cunho social, cujas roupas foram bordadas por presidiários, e um outro baseado no artesanato do Vale do Jequitinhonha.

A música inspirou as duas coleções mais recentes. No penúltimo São Paulo Fashion Week, o cantor gaúcho Lupicínio Rodrigues foi o mote. E em julho último, uma homenagem ao tropicalismo e ao cantor Tom Zé no desfile intitulado "São Zé". Para a primeira edição, em janeiro de 2005, o estilista promete um desfile inspirado no poeta Carlos Drummond de Andrade.

As roupas de Ronaldo Fraga são vendidas em duas lojas próprias, uma em Belo Horizonte e outra em São Paulo, e em 30 multimarcas espalhadas pelo Brasil. Seu showroom em São Paulo fica na "Lei Básica", loja de marca capixaba que Fraga é responsável pelo conceito desde 2001.

O público que procura essas roupas? "Pessoas que têm um domínio da própria história", diz o estilista. "Sejam adolescentes ou senhoras".